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Writer's pictureRui Marques

Que pode ter a ver a Academia de Líderes Ubuntu com a exploração de Marte?

A missão a Houston, no âmbito da colaboração com a Virtual Educa e o seu projeto Marte 2023, como o envolvimento de várias universidades da América Latina e da NASA, colocou-me várias questões muito interessantes. A primeira delas, foi tentar perceber melhor o que está em jogo na exploração de Marte e na possibilidade de ter missões tripuladas e, eventualmente, um dia, poder ter estações espaciais no planeta vermelho.


Embora ainda pareça hoje uma abordagem na âmbito da ficção científica, na verdade pode vir a constituir uma realidade num horizonte não muito longínquo. Nesse contexto, faz sentido pensar o que implicará essa missão, nomeadamente na dimensão dos fatores humanos.


No âmbito deste projeto de trabalho prospetivo, coloca-se com grande destaque a questão do factor humano que será decisivo. Esta missão a Marte terá uma exigência muito maior do que qualquer outra experiência espacial. Desde logo a duração da viagem, em si mesmo, será, no mínimo, um ano e meio, com uma tripulação que terá que coabitar o mesmo espaço (pequeno) durante esse tempo, com todas as condicionantes, desde o efeito dos raios cósmicos, à ausência de gravidade, às questões de alimentação e acesso a água. Nas relações interpessoais, colocam-se questões como o impacto do isolamento social e emocional, do stress e dos conflitos interpessoais, da falta de privacidade ou das limitações de comunicação (cada mensagem demorará entre 3 a 21 min a chegar à Terra).


Para esses desafios, a NASA tem o seu departamento Human Factors & Behavioral Performance que procura soluções.


Trabalha por exemplo, os Expedicionary Skills (Self-Care / Team-Care; Leadership/Followship; Cultural Competency; Team Work) como elementos essenciais. Porém, talvez se pudessem juntar mais algumas peças.


É nesta linha que os cinco pilares do método Ubuntu (Autoconhecimento, Autoconfiança, Resiliência, Empatia e Serviço) podem ser equacionados enquanto parte da preparação necessária para esse futuro. Desde logo, por nos proporcionarem nesse contexto extremo, uma verdadeira educação para a interdependência.


Mas há mais. Por exemplo, para fazer face aos desafios associados ao isolamento e ao confinamento, ao stress e à ansiedade, ou ainda às dificuldades de comunicação geradas nas tripulações, será muito útil o que possam ter aprendido sobre Autoconhecimento. Por outro lado, a Autoconfiança ajudá-los-á não só a enfrentar não só estas ameaças mas também na necessária tomada de decisões, a adaptação à mudança ou a resolução de problemas num contexto muito hostil.


Quando chegamos ao terceiro pilar, à Resiliência, estaremos provavelmente no mais óbvio. Como resposta aos problemas anteriormente referidos mas também para fazer face a riscos de saúde. Também para enfrentar os desafios de uma comunicação efetiva, resolução de conflitos, adaptação cultural ou da convivência num espaço fechado, a Empatia será essencial.


Finalmente, o sentido de serviço Ubuntu constituirá uma competência fundamental para que possam trabalhar em equipa, manter a motivação, priorizar o bem estar do grupo ou ainda contribuir para o bem comum.


Percebe-se assim que a ligação entre a metodologia Ubuntu e os desafios de Marte tem tantas potencialidades. Na verdade, onde existam pessoas, o Ubuntu faz sentido.

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