Creio que temos sobrevalorizado o papel dos debates, face à relevância dos diálogos. Sem que isso queira dizer que não precisamos de debater (podem ter o seu lugar), tantas vezes essa abordagem só nos conduz a jogos de soma nula, em que alguém pretende “ganhar”, face a outro que deve “perder”. Como dizia Churchill, com a sua ironia fina, “o que eu espero, senhores, é que depois de um razoável período de discussão, todos concordem comigo”. E isso não nos levará muito longe.
Esta provocação irónica em torno do “nós precisamos de falar”, enquanto sinónimo de “eu quero falar e tu tens de ouvir o que tenho para te dizer”, leva-nos a uma das grandes dificuldades relacionais do nosso tempo. Na verdade, há um equivoco de base neste ponto de partida, que necessita ser revisto.
Precisamos, pois, de cultivar uma atitude muito mais aberta de verdadeiro diálogo, que se abre às diferentes partes, numa interação positiva e construtiva.
Na abordagem do “Guide to Religious Dialogue”, do Kaicid Dialogue Center, evidencia-se bem algumas das diferenças essenciais entre estas duas dinâmicas. Enquanto a dinâmica de Debate nos leva para uma abordagem confrontacional, em que há o objectivo de “ganhar”, em que se defende que as assunções de que partimos são “verdades” e que se critica a outra parte, levando-nos a uma mentalidade fechada, baseada na determinação de que se “tem razão”, na abordagem de um Diálogo procura-se algo diferente e, sobretudo, com uma outra postura. No Diálogo a abordagem é colaborativa, procura-se um terreno comum, discutem-se os pressupostos de partida sem complexos e somo obrigados a pensar sobre a nossa própria posição, criando uma atitude aberta e dando espaço a que possamos estar errados e necessitemos de mudar.
Foi neste contexto que ganhou particular significado a renovada presença entre nós de Sira Abenoza, do Instituto de Diálogo Socrático, de Barcelona, que nos conduziu num seminário sobre esta metodologia, já com 2300 anos e que continua tão atual. Estamos a preparar um novo formato Ubuntu - Reconcilia - que nos projecta para processos de promoção de diálogo e construção de pontes em quadros de conflito ou pós-conflito e os contributos das aprendizagens sobre a arte de dialogar torna-se vital.
Deixou-nos dez regras para quando, em diálogo socrático, fazermos perguntas:
Não ter medo do silêncio (dar tempo; dar-se tempo).
Suspender o julgamento.
Ser maiêutico (ajudar os outros a darem à luz as suas próprias ideias).
Pensar-se em equipa com a outra parte.
Escutar.
Conectar-se com o seu desejo de conhecer (curiosidade).
Conectar-se com a sua vontade de ajudar (benevolência).
Praticar “elenchus” construtivo (questionar o que foi dito, para que se clarifique e se vá mais longe).
Paciência.
Evitar a arrogância.
Se quiser conhecer mais sobre o trabalho de Sira Abenoza sugiro que possa ver o documentário “In Dialogue” (em inglês) que mostra uma interessante abordagem no quadro do conflito da Irlanda no Norte.
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